segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Alminhas


2 comentários:

  1. Estações do Peregrino:
    Fundos ais chorasTe sobre a arrasada cidade…
    Acudas-nos, Ana, Mãe da Nossa Mãe da Paz,
    e ouve o louvor que com nossos cantos voa…
    Tel Aviv: Afazeres, à Pátria Universal.
    Que consta em teu passaporte?
    Bat Yam: Acordaram-nos os olhos pó,
    às portas da Terra Prometida.
    Cesareia: Romanos, lusos, ameríndios, índios, etíopes,
    nipónicos, arianos, turcos, arménios,
    ucranianos, croatas, chinos,
    africanos, gregos, esquimós, hebreus, árabes,
    à cor irreal, pasmámos.
    Entrementes, quando nos sentámos, a ver que dava,
    partiam, adereços aviados, saltimbancos.
    Monte Carmelo: Fremindo o sopro.
    A aberta imensidade ante, a maior grandeza,
    alma altíssima a olhos dada.
    O fundo envolve-nos, devolvidos ao claro sonho.
    S. João de Acre: Largo voo entre Haifa e Líbano,
    onde o cedro do caminho.
    Stella Maris: Que era d’Iahweh a voz que move.
    A longe nos levava.
    Tíberíades: Descalços pisamos pedras húmidas,
    perto o manso lago,
    dormente dorso em vagas.
    Da faina, na pesca, nos erguemos:
    Passavas, e seguimos-Te,
    amigos com a Notícia.
    Cafarnaúm sofresTe
    porque previsTe ruína.
    Bem Aventuranças: Nova palavra jorrava, estremecia:
    Ressoando-nos, nos imos fibras do pobre coração,
    nosso e Teu O Esplendoroso Verbo.
    Mar da Galileia: Nas lidas escondidas nos calámos;
    a lago, ou a bom ar, despreocupação,
    distensão e acalmia.
    Tabor: Sonambulissimamente divagávamos,
    absortos discorríamos deslumbrando-nos
    o repleto da Luz um dia aclarada sobre a Terra,
    mal acomodadas as próprias tendas.
    Até tangermos O Inominável.
    Gruta da Anunciação: ‘Verbo caro factum est…’
    A alentar-nos.
    Do Anjo a irradiação descida, começo fecundo.
    Ein Karen: Miriam, sabias, com o coração,
    toda a distância compreendida.
    Bethlehem: Era tão só crer, a’o cintilar a estrela.
    Nazareth: Quotidiano escondido, o aí estares.
    Canaã: Teu sangue nosso, convivas da alegria.
    Jericó: Onde o estranho era irmão.
    Porque ofereceste boleia ao desfigurado,
    o Cristo Te sarará também das tuas chagas.
    A Jerusalém, cidade das todas as cidades,
    as acolhedoras portas sempre abertas,
    por próprio pé, acedemos jubilosos…
    Um palestiniano, passeando, e assoando-se,
    à diurna luz, a última paz…
    Até que nos achássemos definitivamente no templo.
    Muro das Lamentações: Pesada a prova da memória.
    Piscina Probática: Esquecidos no densíssimo pecado,
    largos anos esperámos que nos soerguesses.
    Das Tentações: Acossados, superamos ancestral desespero.
    Monte das Oliveiras: ConTigo chorámos o desígnio dUm Pai.
    Basílica da Agonia: Um furco perto do Seu pé sangrando,
    a soldadesca entrega-se a mesquinho passatempo,
    sobre rabiscos no lajedo, com mínimas pedrinhas.
    Via-Sacra: Marcados p’la Tua dor,
    em Ti morremos.
    Com a Cruz: Bem quis ajudar-Te o de Cirene,
    mas Tu lhe desTe a ele Tua Vida.
    Santo Sepulcro:
    Pra conTigo subirmos
    renascermos.
    Local da Ascensão: RegressasTe
    até aO Lugar de Onde viesTe.
    Pai-Nosso: Éramos agora outros ao olhar O Outro,
    iguais, Teus co-herdeiros.
    Dominus Flevit: Estávamos protegidos e amados.
    No transe desentranhavas o amor maior.
    Porque antevisTe a vitória dos Teus,
    Te deixasTe matar.
    Monte Sião: Para reacender as madrugadas.
    Cenáculo: Junto a Maria, mudámo-nos dO Enlevo Consolador.
    Túmulo do Rei David: Novo incenso, entre sombra e luz.
    Dormição: Toda a tua morte, Maria, alumbras,
    Nossa Senhora da Ternura.
    Cenáculo: Pão e vinho partilhados, plenitude, mãos,
    estremecermos na trepidante passagem.
    Yad Vashen: Amaro ido com registo, em nós caímos.
    …Geena: Medonha, horrenda, hiante desolação…
    El Aqsa: Em tonto sono voaram-nos as ideias.
    Sob a cúpula doirada do templo,
    anéis com versículos gravados aO Misericordioso.
    Tumba de Lázaro: Após ignóbil tragédia, somos nós.
    Aeroporto: Na bagagem, terra declarada.
    Não refizéramos, nem na ínfima parte, O Percurso;
    mas ficámos, na pura verdade vagando,
    tratando, respirando
    conTigo, Cristo Amigo,
    pomba, fogo, loucura,
    inenarrável libertação:
    Até ter cor manhã.

    ResponderEliminar
  2. ANÁFORA DA VIDA PROBLEMÁTICA EM UM QUASE SONETO:
    Se só uma vez estás vivo,
    se só uma vez dizes Amor,
    se só uma vez salvas Amigo,
    se só uma vez acenas Adeus,
    se só uma vez vives,
    se só uma vez morres,
    se só uma vez vês a Cor,
    se só uma vez vives a vida,
    se só uma vez morres da morte,
    se só uma vez o grão do trigo sepultas
    para dares lugar ao pão para a mesa…
    Porque disse então
    o Jesus Cristo dos paradoxos
    ser preciso nasceres de novo?

    ResponderEliminar